
À data que escrevo este texto tenho 7097 dias de vida. São bastantes e começo a sentir uma pequena crise “de um quarto de idade”. Questiono-me se levo a vida que quero e se o futuro, que está mais próximo do que posso pensar, será tudo o que desejo. Assim conto dias. Conduzo a minha vida por começos e finais de semestres, dias de exames, frequências, aniversários, férias, datas especiais. E porque serão esses dias mais importantes que qualquer outro? E afinal o que é um dia?
Podemos falar do dia solar: intervalo de tempo entre duas passagens consecutivas do Sol no mesmo meridiano e do dia civil: espaço de tempo que decorre desde a meia-noite de um dia até à meia-noite do dia seguinte. Mas o dia quebra barreiras temporais e pode alongar-se para lá dos limites das horas ou acelerar o passo e acabar no momento em que o começamos a saborear.
Dia também pode ser o nome dado ao aglomerado de horas que se passa no emprego, mas valerá a pena delimitar o dia como as horas que passamos a trabalhar? Para quem faz o que realmente gosta talvez não seja redutor fazê-lo, mas e para quem simplesmente trabalha para poder viver? O dia começa depois do expediente, quando se pisa o mundo lá fora e as horas preenchem-se com soirées em teatros e cinemas, concertos, passeios pela cidade. Dia é quando se vive, é um novo acordar para o mundo, bradar aos ventos “Eu existo e estou aqui”, mesmo que sintamos a necessidade de passar despercebidos.
Por vezes é difícil iniciar a aventura que é um novo dia, estar aberto para o que possa vir a acontecer. E é o intercalar dos dias fantásticos e dos extremamente horríveis que nos faz perceber o que realmente nos toca e o quão especial a vida pode ser. Os dias são marcados por experiências, por acontecimentos, sítios e, essencialmente, pessoas. Há pessoas que têm o dom de preencher os nossos dias e de nos mostrar que por vezes vivemos os dias de calendário e não os momentos, que nos prendemos nas cruzes que marcamos nestes enquanto contamos os dias que faltam para o seguinte marco agendado na nossa vida.
John Lennon afirmou que a vida nos passa ao lado enquanto estamos demasiado ocupados a fazer planos, o mesmo acontece com os dias. Enquanto estivermos preocupados em vivê-los, não de forma intensa mas como contagem decrescente para algo maior e melhor, iremos perder as pequenas coisas inesperadas que se atravessam no nosso caminho e que nos fazem crescer e acreditar que a vida merece ser vivida não através de esquemas de contagens como relógios e calendários, mas sim através da janela do quarto, de um livro, de uma música, de pessoas e experiências.
Comecei a dar mais valor ao que é um dia quando o meu avô adoeceu. Pensar que cada dia que passava podia ser o último fez-me pensar nos dias que desperdicei, mas agora que começo a perceber como alguns momentos são mais preciosos do que aquilo que pensamos entendo que não desperdicei dias no sentido lato da palavra. Perdi foi a noção da importância que determinadas coisas tiveram para mim e isso sim é perder dias.
Uma das mais bem conseguidas campanhas publicitárias do ano que passou centrava-se à volta da ideia de que devemos viver a vida e que todos os dias são bons para começar a fazê-lo. Então do que estou à espera? "Hoje é o dia".
Texto fruto de um trabalho sobre uma palavra à nossa escolha para a cadeira de TEP.
Com o trabalho entregue deixo.vos o texto aqui. Depois digo se a nota foi jeitosa.
É um belo exercício este, talvez venha a repeti-lo.
Ps: Hoje já tenho 7104 de vida.
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3 comentários:
bastante profundo...
parabéns pelos teus dias de vida. São poukinhos kd comparados com os meus mas mesmo assim...
oh' rita, muito bonito mesmo.
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